O previlégio invisível: será que tens?
- 14 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de jun.
Quando a sorte parece esforço e a facilidade parece normalidade
Muitos de nós crescemos a ouvir: “Quem quer, consegue.”
Mas e quem não consegue?
Será falta de querer?
Ou falta de acesso?
A verdade é que vivemos num mundo onde nem todos partem do mesmo ponto de partida, mas muitos nem se apercebem disso.
Porque o privilégio, quando se tem, costuma ser invisível.
Este artigo não é uma acusação.
É um convite.
A olhar com mais atenção. A sair da bolha. A perceber que talvez… aquilo que achas “normal” não o é para todos.
E que talvez estejas mais privilegiado do que imaginas.
O que é privilégio, afinal?
Privilégio não significa que a tua vida é perfeita.
Nem que nunca tiveste problemas.
Privilégio significa que certas dificuldades que outras pessoas enfrentam, tu simplesmente não tens de enfrentar.
É não ter de te preocupar com certas coisas.
É ter portas abertas sem te aperceberes que, para outros, essas portas nem sequer existem.
É, por exemplo:
Nunca teres passado fome.
Teres acesso à internet em casa.
Estudares num lugar seguro.
Teres pais que te apoiam emocionalmente.
Poder amar quem quiseres sem medo.
Não precisares de esconder quem és para seres aceite.
Ter saúde física e mental funcional.
E mais:
É achares que tudo isto é o “mínimo”.
Quando, para muitos, é um sonho distante.
Porque é que o privilégio é invisível?
Porque crescemos dentro dele.
É o ambiente à nossa volta. É o “normal” com que sempre vivemos.
E o cérebro humano tem tendência a normalizar tudo o que é constante.
Por isso, não vemos.
Não por maldade. Mas por hábito.
Só que esse hábito pode ser perigoso.
Porque quando não reconhecemos o nosso privilégio, corremos o risco de julgar quem não tem as mesmas oportunidades.
De dizer frases como:
“Se eu consegui, qualquer um consegue.”
“É só esforçar-se.”
“Dramatizam demais.”
Mas o que conseguimos, conseguimos com ajuda de coisas que nem sabíamos que eram ajudas.
Exemplos de privilégios comuns (mas ignorados)
📚 Acesso à educação de qualidade
Muitos jovens crescem em zonas sem escolas com recursos.
Sem professores motivados.
Sem explicações privadas.
Sem incentivo em casa.
E depois comparam-se com quem teve tudo isso desde o berço.
A meritocracia ignora o ponto de partida.
💻 Acesso digital
Acreditamos que “todos estão online”.
Mas há quem não tenha um computador.
Nem um espaço silencioso para estudar.
Nem internet estável.
E isso condiciona o presente e o futuro.
🧠 Saúde mental
Se nunca sentiste ansiedade paralisante, depressão profunda ou burnout, tens um privilégio.
Porque há quem lute todos os dias só para sair da cama.
E, mesmo assim, se cobre por não “ser produtivo”.
👨👩👧 Apoio familiar
Ter alguém que acredite em ti, que te ajude, que te ouça — não é universal.
E quem não tem isso muitas vezes sente-se sozinho no mundo, mesmo rodeado de gente.
✊ Raça, género e orientação sexual
Se nunca te sentiste discriminado pela cor da tua pele, pelas tuas crenças, pela tua sexualidade ou pela tua expressão de género… isso é um privilégio.
Significa que a sociedade foi feita para ti. E não contra ti.
Porque é importante reconhecer?
Porque só ao reconhecer, podemos:
Deixar de julgar os outros com base na nossa experiência pessoal.
Desenvolver mais empatia.
Usar o nosso privilégio para abrir portas, e não fechá-las.
Ajudar a construir uma sociedade mais justa.
Reconhecer o privilégio não nos torna menos merecedores das nossas conquistas.
Torna-nos apenas mais conscientes de que não conseguimos tudo sozinhos.
E que talvez seja hora de devolver um pouco ao mundo.
E se não te identificaste com nada disto?
Então talvez sejas tu quem precisa de ajuda.
Talvez vivas a vida com desvantagens que ninguém vê.
E isso também precisa ser dito.
Porque o objetivo não é comparar dores.
É abrir espaço para conversas reais.
Onde conseguimos reconhecer os privilégios e as lutas.
Sem silenciar ninguém.
Ver além do óbvio
No Além do Óbvio, queremos isso mesmo:
Desafiar a normalidade.
Fazer-te pensar.
Tirar-te da tua bolha com carinho, mas também com firmeza.
Por isso, fica esta pergunta:
Quantas vezes já te sentiste grato por coisas que sempre tiveste?
E quantas vezes julgaste alguém por não ter conseguido aquilo que para ti foi “básico”?
Ver o próprio privilégio pode doer.
Mas é o primeiro passo para ser parte da mudança.
Porque só quando reconhecemos o que temos, conseguimos usar isso para tornar o mundo melhor para quem não teve a mesma sorte.



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