A vergonha do corpo
- 21 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de jun.
O espelho não devia ser um inimigo.
Quantas vezes já olhaste para o teu corpo e quiseste mudá-lo?
Quantas vezes já usaste roupas largas para te esconder?
Quantas vezes já comparaste o teu reflexo com alguém do Instagram?
E quantas dessas vezes te sentiste… errado(a)?
Vivemos tempos em que o corpo está em todos os lados — menos no lugar certo: em paz connosco.
Este artigo não fala de dietas, nem de beleza.
Fala de algo mais profundo: a vergonha do corpo.
Aquela que cresce em silêncio. Que molda a autoestima. Que nos faz caber no mundo… às custas de deixar de caber em nós.
Onde nasce a vergonha do corpo?
A vergonha não nasce connosco.
Aprendemos a tê-la.
Aprendemos quando ouvimos o primeiro “estás mais gordinho”, dito com ar de crítica.
Aprendemos quando vemos capas de revistas a dizer “o corpo ideal para o verão”.
Aprendemos quando todas as influencers parecem ter a mesma barriga, o mesmo nariz, o mesmo sorriso.
Aprendemos quando a sociedade nos diz, subtilmente, que o valor está na aparência.
E crescemos com isso.
Crescemos a olhar para o nosso corpo como se fosse um projeto inacabado.
Algo a ser corrigido. Remodelado. Filtrado.
Mas… e se o problema não for o nosso corpo?
E se for a forma como nos ensinaram a vê-lo?
O corpo como campo de batalha
Para muitas pessoas, o corpo não é um espaço de expressão.
É um lugar de guerra.
Lutamos contra ele.
Escondemo-lo.
Punimo-lo com dietas, com comparações, com ódio interior.
E o pior?
Achamos normal.
Achamos normal odiar a barriga, as coxas, a pele, o cabelo.
Achamos normal achar-se feio.
E vivemos à espera do dia em que vamos finalmente gostar de nós.
Mas esse dia só chega quando percebemos que não é o corpo que tem de mudar — é a forma como o vemos.
O espelho não mente, mas também não diz tudo
O espelho mostra uma imagem.
Mas a interpretação vem da tua mente.
E essa mente, muitas vezes, está contaminada.
Contaminada com padrões irreais.
Com filtros.
Com comentários passados.
Com ideias que dizem que só serás amado(a) quando fores “magro”, “definido”, “perfeito”.
Só que o amor não se mede em quilos.
A autoestima não se alcança com Photoshop.
E a aceitação não devia ser condicional.
O corpo é a tua casa.
O único lugar onde vais viver toda a vida.
E tu mereces viver aí em paz.
Redes sociais: espelhos distorcidos
As redes sociais podem ser cruéis.
Mostram vidas perfeitas. Rostos impecáveis. Corpos “goals”.
Mas esquecem-se de mostrar a luz certa, a pose certa, a edição.
E mais importante: esquecem-se de mostrar a realidade.
A verdade?
Mesmo quem parece estar “perfeito”, também se sente inseguro.
Também se compara.
Também tem dias em que se odeia.
E tu estás aí, a comparar os teus bastidores com o palco dos outros.
E se o teu corpo não for o problema?
Já pensaste nisto?
E se o problema não estiver em ti, mas sim no olhar com que te vês?
E se fores lindo, mas foste ensinado a duvidar?
Desafiar a vergonha é uma revolução silenciosa.
É olhar para o espelho com mais ternura.
É vestir o que quiseres, mesmo com medo.
É comer sem culpa.
É dançar sem te esconder.
É entender que o corpo serve para viver — não para ser julgado.
A vergonha não é tua. Mas a cura pode ser.
Pode levar tempo.
Pode doer.
Mas é possível reconstruir essa relação.
Começa com pequenas coisas:
Deixar de seguir perfis que te fazem sentir mal.
Começar a falar contigo com mais gentileza.
Procurar ajuda se sentires que não consegues sozinho.
Rodear-te de pessoas que te veem para além do corpo.
E lembra-te: o corpo muda.
Vai mudar.
É natural, é humano.
Mas tu não és menos por isso.
Não és menos quando tens acne.
Não és menos quando tens estrias.
Não és menos quando engordas.
Não és menos. Ponto.
Liberta o corpo da prisão da vergonha
No Além do Óbvio, acreditamos que ninguém devia sentir-se preso no próprio corpo.
Ninguém devia pedir desculpa por existir.
Ninguém devia ter vergonha de ser quem é.
O corpo não é um castigo.
É uma ferramenta.
É uma história viva.
É o teu templo — mesmo quando não gostas de tudo o que vês.
Que possas olhar para ti com os teus próprios olhos — e não com os olhos do mundo.
E que nesse olhar, encontres finalmente a liberdade de seres inteiro.



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